Bater ou dialogar é uma discussão da nossa época. Quando meus avós eram
crianças, o diálogo não existia da forma que existe hoje, mas ninguém
precisava de um tapa para aprender alguma coisa. Na verdade, o que valia
era uma cara feia, um olhar sisudo mandando obedecer, porque os pais,
agindo dessa maneira, ensinavam o respeito aos mais velhos, davam
limites às crianças, afinal eram as autoridades da casa. Contudo, nos
nossos dias, os tapas até estão virando motivo de deboche. Quem nunca
viu uma criança dizendo: “Pode bater, que não dói”? Com tal provocação,
os pais podem passar das contas e bater mais do que queriam. Há casos em
que o descontrole emocional é tanto que o tapinha acaba em
espancamento. Assim, os pais que batem e são revidados pelos filhos não
são mais as autoridades da casa, mas sim, os reais agressores.
Crianças
e adolescentes não precisam de um tapa. Precisam de um “não” seguro e
firme e de pais assertivos e carinhosos que lhes deem continência e
limites, regras claras, que lhes digam “pode”, “não pode”, “está certo”,
“está errado”. Mais do que tudo, eles precisam de palavras associadas a
ações que lhes ensinem valores e atitudes, para que, a partir dessa
aprendizagem, possam, sozinhos, fazer suas próprias escolhas.
Segundo
a psicóloga Jan Hunt, há relação direta entre o castigo corporal na
infância e os comportamentos agressivos ou violentos na adolescência ou
fase adulta. O castigo físico passa a mensagem injusta e nociva de que
“o mais forte sempre tem razão” e de que é permitido ferir alguém, desde
que esse alguém seja menor e menos poderoso.
Uma
vez que as crianças aprendem pelo exemplo dos pais, o castigo físico
ensina que bater é um modo correto de exprimir sentimentos e solucionar
problemas. Se uma criança não vê seus pais resolverem dificuldades de um
modo criativo, poderá utilizar a agressão como uma forma prática de
superar os desafios cotidianos.
(Grazielle Rocha França-Psicóloga, especialista em Educação Infantil e Psicopedagoga)